Aquelas
pessoas que me conhecem sabem que eu não gosto de carnaval. Na minha
humilde opinião é um feriado que já deveria ter deixado de existir
há tempos. Esse lance da política de pão e circo já está mais
que batida. Particularmente eu prefiro ficar trancado em casa – uma
vez que ainda não tenho dinheiro pra sair do país nesta época do
ano – e nem ligo a TV, pois só se fala da folia de Momo não
importando o canal e que se ligue. O que seria de mim sem meus
livros, revistas, internet ou canais fechados?
Aconteceu
de no carnaval de 2010 uma amiga, por quem eu tenho um grande apreço,
carinho e amo muito saiu de Campo Grande/ MS pra conhecer o carnaval
de Salvador. Ela já esteve pelas bandas da Soterópolis na Semana
Santa de 2007, que foi quando eu a conheci pessoalmente – antes
disso só a conhecia pelo orkut e MSN.
Como eu
não gosto de carnaval, mas não podia deixar de ver Lesly, essa
minha amiga tão amada, marquei com ela bem longe dos locais onde a
festa ocorre em Salvador: no Shopping Iguatemi. Nos encontramos lá
ela, eu, Doo (outro amigo nosso) e a namorada dele. Conversamos um
pouco e matamos parte das saudades que sentíamos um do outro. Ela já
tinha acertado com outros amigos nossos que ia encontrá-los no Largo 2 de Julho pra aproveitar o carnaval. Como ela não conhece bem a
cidade, Doo ficou de levá-la até lá. A namorada dele foi pra casa,
pois ia pra Avenida com o primo. E foi aí que a coisa começou a
degringolar.
Fomos
pegar o ônibus na Rodoviária e, quando chegamos lá, a namorada de
Doo ligou pra ele dizendo que ele havia ficado com o CD dela. Me dispus a
levar Lesly onde o restante do pessoal estava, já que Doo tira que
voltar pra devolver o CD. O ônibus não tardou a passar e chegamos
sem (quase) nenhum transtorno na Estação da Lapa. As maiores
dificuldades foram termos ido em pé e o ônibus ter enchido com
foliões indo para a festa.
A
multidão de festeiros não chegou e me espantar, pois já esperava
por isso, mas não sei se ela ficou assustada/espantada com a
quantidade de gente subindo a ladeira como formigas indo em direção
a uma mesa cheia de guloseimas. Coloquei a bolsa dela no meu pescoço,
segurei-a pela mão e fomos enfrentar aquele mar de gente e o perigo
de nos separarmos. Passamos pela Praça da Piedade e Av. Sete sem
problemas. Na Av. Carlos Gomes o bloco Filhos de Gandhi havia
terminado de passar, já fazendo o caminho de volta do circuito Dodô.
Lesly até queria ter tirado fotos com eles, mas não deu tempo.
Encontramos
o pessoal, fiz a social ficando um tempo lá e fui-me embora, mas
voltei logo: Tomate, com o bloco Internacionais, estava passando na
Carlos Gomes impedindo a minha passagem. Em sendo assim, resolvi
voltar e ficar mais um pouco com o pessoal. Pouco depois ele
resolveram ir ver os blocos passando enquanto eu fui embora outra
vez.
Tomate já
tinha ido embora quando passei na Carlos Gomes de novo e segui o meu
caminho. Quando cheguei na Rua da Forca vi, pelos balões se
aproximando, que havia mais um bloco chegando e pedi a Deus que não
fosse um certo bloco, o pior que há para quem quer tentar passar
para o outro lado. Era ele! De nada adiantaram minhas preces: era o
Camaleão!!! Aquela desgraça daquele bloco tem uns 3km dos balões
até o carro de apoio. Dali até o fim do bloco deve ter mais uns
2,5km.
A Rua da
Forca é um beco sem vergonha que fica entre um banco e uma loja de
eletrodomésticos e que liga a Av. Carlos Gomes à Av Sete/Praça da
Piedade. Era tarde demais pra mim: não tinha mais como seguir em
frente. Ainda tentei voltar, mas já tinha outro bloco – que eu não
consigo me lembrar qual era – passando na Carlos Gomes. Aquele beco
dos infernos foi enchendo de gente como acontece com qualquer bloco
que passe no circuito. Mas não era qualquer bloco que estava
passando: era o “Chicretão, mô pai”!
Continuei
com minhas preces, dessa vez pedindo que o trio não parasse, mas,
outra vez de nada adiantou pedir porque aquele filho da mãe do Bell
Marques pediu pra parar quase que em frete de onde eu estava. Ele
tornou a minha espera angustiante pra sair daquele lugar e deixar de
ouvir Axé Music de “difícil” para “quase impossível”. Por
sorte minha ele não ficou muito tempo parado e seguiu em frente –
o que não quis dizer muito, pra bem da verdade. Só nessa
“brincadeira” eu perdi de 20 a 30 minutos da minha vida ali,
parado, espremido, com um calor que fazia a Rua da Forca parecer uma
filial do inferno e ouvindo um estilo musical que não me agrada em
nada. Contabilizando aí também o tempo que o carro de apoio levou
parado na minha frente também. É a lei de Murphy comandando a minha
vida, como SEMPRE faz. Tsc.
O fim do
bloco vinha se aproximando, a rua foi esvaziando, já dava pra tentar
dar alguns passos em qualquer direção e assim eu fiz. Fui
caminhando em direção à saída da rua pra ver se ainda faltava
muito pra eu poder ir embora daquele lugar e assim que eu vi uma
brecha em que eu, magrelo que sou, poderia serpentear e sair dali fui
ao seu encontro. E não me importou se eu tive que dar a volta em
toda a Praça da Piedade. Tudo que eu queria era voltar pra casa.
Como você pode imaginar, eu consegui. Caso contrário não teria
narrado esta história.
Com Lesly no Largo 2 de Julho.